Machado de Assis – um clássico atemporal
Nenhum outro
escritor brasileiro destaca-se tanto no conto e no romance como Joaquim Maria
Machado de Assis. Nascido em 1839 na cidade do Rio de Janeiro, ele iniciou sua
carreira literária publicando poemas em jornais nos quais trabalhava como
tipógrafo ainda na mocidade.
Romances como “Ressurreição” (1872), “A Mão e a Luva” (1834), “Helena” (1836) e “Iaiá Garcia” (1838) apresentaram Machado de Assis ao grande público leitor brasileiro do século XIX. Embora escritos sob a perspectiva romântica, o sentimentalismo nessas quatro obras é mais comedido do que aquele presente em outras obras do Movimento romântico como os clássicos indianistas de José de Alencar ou mesmo “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo, considerado o primeiro romance romântico escrito em terás brasileiras.
Foi ano de 1881 que Machado de Assis atingiu o grande
ápice que o tornou imortal para a Literatura brasileira: a publicação de “Memórias póstumas de Brás Cubas”
iniciou o movimento Realista no Brasil. O personagem Brás Cubas destaca-se como
o “defunto-autor” (ou seria um autor-defunto?) que oferece seu livro ao verme
que primeiro roeu as frias carnes do seu cadáver. Ao optar por escrever sua
história de vida após a morte (e começando por ela) ele abandona as amarras da
sociedade e procura fazer com que o leitor acredite que essa situação facilita
a sinceridade da narrativa.
Entre as décadas de 1880 e 1890 o escritor trabalha na
publicação de livros de contos como “Histórias sem data”, “Papeis Avulsos” e
“Histórias da meia-noite”. Entre os contos célebres de Machado estão “A
Cartomante”, “Uns Braços”, Pai contra Mãe”, “A Causa Secreta”, “O Enfermeiro”,
“O Espelho”.
Em 1891 ele publica o segundo romance realista: “Quincas
Borba”. O personagem título está presente no romance anterior “Memórias
póstumas de Brás Cubas” e tem uma grande importância na vida do
narrador-defunto. Quincas é uma amiga de infância que, entre muitas peripécias
da vida, torna-se um louco filósofo do qual se destaca a frase “Ao vencedor as
batatas”. Já no romance que leva seu nome Quincas Borba morre logo nas
primeiras páginas, deixando ao amigo Rubião como herança sua fortuna e o
cachorro (que leva seu nome).
Em 1899 Machado de Assis publica aquele que se tornaria
seu romance mais popular: “Dom Casmurro”. O “Otelo brasileiro” Bentinho é um
homem envelhecido que procura contar sua história para “atar as duas pontas da
via” a velhice e a juventude. Nesse romance Machado cria uma das personagens
femininas mais famosas da Literatura mundial, a menina dos olhos de ressaca,
Capitu.
O início do novo século traz experiências ruins para o
escritor. A morte da esposa Carolina em 1904 coincide com a publicação do
romance “Esaú e Jacó” no qual trata da instalação da República no Brasil
através da figura dos irmãos Pedro (monarquista) e Paulo (republicano).
O ano da morte de Machado de Assis ainda traz uma grande
surpresa ao público já cativo de leitores que ele conquistou. A publicação de
“Memorial de Aires” em 1908 é o último suspiro do escritor no mundo das letras.
Nesse mesmo ano, no dia 29 de setembro, Joaquim Maria Machado de Assis morre no
Rio de Janeiro, depois de uma vida frutífera de luta através das palavras.
Criou muito personagens importantes da Literatura
Brasileira como Brás Cubas, Bentinho, Quincas Borba, o médico Simão Bacamarte
(do conto “O Alienista”), os irmãos Pedro e Paulo e o Comandante Aires. As
personagens femininas eram o oposto do que se esperava de uma heroína
romântica, e, talvez por isso, seduziam o leitor; temos Virgília a sedutora
amante de Brás Cubas, Sofia a esposa que seduz Rubião por interesses
financeiros, Flora que torna ainda mais relevante a disputa entre os irmãos
Pedro e Paulo e, por fim, Capitu, a sedutora menina da infância de Bentinho que
transformou-se na esposa infiel da Rua da Glória. A infidelidade de Capitu é
uma das maiores questões da nossa Literatura, tendo rendido inúmeros estudos
sobre o tema desde a publicação do livro “Dom Casmurro”.
A
luta de Machado de Assis iniciou-se logo na infância pobre, numa comunidade do
subúrbio carioca, quando perdeu a mãe, depois o pai e foi criado pela madrasta,
uma doceira que o auxiliou nos primeiros anos de escola.
Mulato de origem, Machado não era afeito a grandes
revoluções nas ruas, pelo contrário, sua crítica aos problemas sociais se dava
por meio da palavra, grande arma que escolheu para exteriorizar suas idéias.
O menino pobre, órfão, epilético que nasceu numa casa
pobre no Morro do Livramento se tornou Presidente da Academia Brasileira de
Letras, sendo um dos seus fundadores no ano de 1897 junto com outros
intelectuais da época.
Machado de Assis tornou-se um grande expoente da Literatura de Língua Portuguesa, estando para muitos, entre os maiores da Literatura mundial.
Por Cristina Kendall
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